por Wellington Gonçalves Nery*
A foto é da Barragem da Pedra ainda em construção. O texto foi extraído do livro Nova História de Jequié, de Émerson Pinto de Araújo.
A Bacia do Rio das Contas tem como principais afluentes os rios Antonio, Gavião e Gongogi á margem direita, e São João, Sincorá e Jacaré á margem esquerda, abarcando, dentre outros, territórios de Jequié, Ilhéus, Itabuna, Ubaitaba, Ipiaú, Poções, Maracás, Itambé, Contendas, Andaraí, ituaçú, Barra da estiva, Brumado, Rio de Contas, Condeuba, caculé e Caetité, segundo estudos efetuados pelo Conselho Nacional de Geografia no ano de 1964. Isso porque uma bacia hidrográfica é constituída, alem dó rio principal e seus grandes afluentes, de pequenos riachos, microbacias e cursos d'agua alimentados pela chuva. Estudos recentes, compilados pelo jornalista Nilton Nascimento junto à Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia mostram que o Rio das Contas, um dos maiores da Bahia, é dono de uma área de drenagem de 55.334 Km2, banhando 74 municípios e levando vida a uma população calculada em um milhão de pessoas. Não é demais acrescentar que uma bacia hidrográfica ou potamográfica engloba inda outros fatores, como atmosfera, clima, solo, fauna, flora, minérios, vias de acesso, ocupação humana, etc.
A Bacia do Rio das Contas está entalhada no planalto sul da Bahia, limitada ao norte pelas bacias do Paraguaçu e Recôncavo Sul; ao sul pelo Estado de Minas Gerais, com a bacia do Rio Pardo e as bacias do leste; ao leste pelo Oceano Atlântico e a oeste pela bacia do Rio São Francisco (SRH, 1993), entre as coordenadas geográficas 12º 55' e 15º 10' de latitude sul e 39º 00' e 42º 35' de longitude oeste, havendo uma queda total de 615 metros da nascente à foz do curso d'água que lhe dá o nome. O mapa geológico da região mostra a existência de rochas distribuídas entre o quaternário, paleozóico, o neo-pre-cambriano, e o pré-cambriano, já em Jequié, o arqueano com ganaisses charnockiticos, biotita-ganaisse, quartzo-faudspático, depósitos fluviais, depósitos eluvionares e coluvionares.
Quanto o aspecto fitogeográfico, a Bacia do Rio das Contas apresenta as seguintes zonas climáticas: a) vegetação halófita, psamórfita na planície arenosa da praia e do litoral; b) mata pluvial tropical, hidrófita; c) mata da zona de transição subxerófita e mata de cipó; d) caatinga, vegetação xerófita com algumas frutófitas; e) campos limpos e cerrados nas regiões altas.
Excetuando-se a região próxima à praia, o período chuvoso da bacia do Rio das Contas ocorre de novembro a abril, seguindo-se a estação da seca. De regime torrencial, o Rio das Contas enche quando chove nas cabeceiras apresentando-se quase seco no período de estio, a na ser nas partes em que as águas são represadas pelas grandes e pequenas barragens e próximas da foz. Segundo os meteorologistas, a região costeira do Estado é beneficiada pelas chuvas trazidas pelos ventos do sudoeste, o mesmo não acontecendo no interior, em virtude da elevação do terreno impedir a passagem das nuvens portadoras d chuvas. A estaca da chuva no litoral, por esse motivo, corresponde com a estação da seca no sertão. Este só é beneficiado nos meses de outubro a março, quando o cinturão de chuvas equatoriais se dirige para o sul. Quando o cinturão está muito carregado, surgem enchentes e inundações. Quando, ao contrário, é pobre de nuvens, a seca assola o interior. No Recôncavo, somente no inverno as chuvas são superiores a quarenta polegadas, enquanto no sertão, durante todo o ano, não chegam a atingir dez. Em conseqüência, o clima quente e úmido do Baixo Rio das Contas, provocado pela Mata Atlântica, é substituído no Médio Rio das Contas pelo clima seco do semi-árido.
Estudos já realizados constataram que no subsolo da Bacia do Rio das Contas encontra-se reservas de ferro, xisto betuminoso, biritina, magnesita, urânio e outros minérios.
O Rio das Contas com seus 508 Km de extensão, nasce na Serra das Trombas, em plena Chapada Diamantina, que é o prolongamento da Mantiqueira em terras baianas. É um rio de planalto, diamantífero, estando quase todo o seu leito situado em terreno metamórfico. No passado, antes da devastação das matas e das grandes enchentes que alargaram suas margens, além do piscoso em quase todo o curso, era de maior correnteza, apresentado, como acontece ainda hoje, corredeiras e cachoeiras que sempre impediram sua navegabilidade salvo nas proximidades do oceano, assim mesmo através de pequenas embarcações. Esse quadro entrementes, sofreu modificações em grande parte do curso médio, após a construção da Barragem da Pedra. Sua vazão, a montante de Funil, segundo cálculos efetuados tem variado de 1,6 m3 (mínima) a 4.000 m3 por segundo (máxima), podendo, excepcionalmente, atingir até 10.000 m3, quando ocorrem as grandes enchentes. Tais enchentes são causadas por fenômenos meteorológicos aliados a condições hidrológicas, provocando deflúvio de grande intensidade. Em se tratando de uma bacia extensa, as chuvas de longa duração abrangem quase toda a parte da área de drenagem, face a baixa capacidade de retenção dos terrenos. A situação se agrava quando a área da bacia é invadida por frentes frias que permanecem estacionárias, como ocorreu em dezembro de 1942. A maior enchente que se tem notícias ocorreu em janeiro de 1914, quando o rio transbordou em ambas as margens. Calcula-se que a cota linimétrica oscilou de nove a pouco mais de dez metros. De 24 a 26 daquele mês choveu 162 mm sobre a bacia.
No curso do Rio das Contas existem duas barragens de real importância: Funil e Pedra. Em alguns dos afluentes, proprietários ribeirinhos, improvisaram pequeníssimas barragens e tanques nas margens, as primeiras represando um pouco de água e os últimos convertidos em açudes, os quais se rompiam durante as enchentes. Jornais da capital e do interior chegaram a noticiar que tais rompimentos contribuíram para que algumas carpas e até mesmo piranhas, mantidas em regime de confinamento, ganhassem o leito do Rio das Contas. Os ocidentes, todavia, carecem de confirmação por parte de órgãos especializados.
Os primeiros estudos sobre o aproveitamento hidrelétrico do Rio das Contas datam do final da primeira metade do século passado. A hidroelétrica de Funil foi inaugurada no segundo governo de Juraci Magalhães com capacidade para 10.000 kw. No que tange a Barragem da Pedra localizada a 18 km à montante de Jequié, sua inauguração teve lugar em dezembro de 1969, sendo o governador do Estado, Luís Viana Filho. Muito embora elevasse o setor energético para 30.000 kw, a barragem da Pedra, com 65 metros de altura máxima, tem como principal finalidade o armazenamento de água doce que na plenitude, chega a atingir quase duas baías da Guanabara, estendendo-se por uma distancia de 72 km. Alem de possibilitar a navegabilidade de parte do Rio das Contas, controla as inundações das cidades ribeirinhas, oferece condições de irrigação para uma extensa área destinada á implementação de núcleos agrícolas que está presente em 37 dos 63 municípios da bacia, apresentando um grande potencial para o desenvolvimento, devido ao seu potencial de solos, às disponibilidades hídricas, e principalmente, devido à própria tradição já existente na região, facilita o criatório de peixes, propiciando ainda outros benefícios como predominância da agropecuária, que ocupa 64% da população economicamente ativa da região.
Existe um levantamento procedido pela firma Norberto Odebrecht S.A visando aproveitar aspotencialidades do médio Rio das Contas e do lago artificial formado pela barragem da Pedra.Vasco Neto, por sua vez, quando exerceu o mandato de deputado federal, no afã de eliminar os desníveis regionais e evitar o congestionamento dos portos de Santos e do Rio de Janeiro, revitalizando por outro lado o complexo portuário da Bahia, defendeu o aproveitamento de todo vale do Rio das Contas, hidrovias no rio São Francisco, fazendo parte do outro complexo mais abrangente, incluindo as rodovias BR- 330, BR-101,BR-415, BR-030, ao lado das ferrovias EF- 025, EF-116 e EF-445, a serem construídas, ligando Brasília a Campinho, covertendo-se na espinha dorsal de um grande corredor de exportação, o qual servirá inclusive aos países andinos que buscam uma saída para o Atlântico. A complementação e a interligação de tais obras, umas já concluídas, outras em andamento e as demais já planejadas contribuiriam para beneficiar o país num futuro próximo, bem como grande parte do território baiano, inclusive Jequié, e por extensão todo Nordeste.
Presentemente, a exemplo do que se verifica em outros cursos d'agua, a poluição hídrica está avançando em todo leito do Rio das Contas, a começar das cabeceiras, nos municípios de Caetité e Lagoa Real, onde ficam as maiores jazidas de urânio do país.Outras atividades minerais nos afluentes potencializam a situação, agravada pela natureza urbana, onde os esgotos domésticos ampliam a degradação. Matadouros, curtumes e outras instalações localizadas às margens do rio concorrem para aumentar a sujeira. Um relatório do Ibama esclarece que a quantidade de lixo e de objetos sólidos jogados no Rio das Contas, à jusante de Jequié, é preocupante, já que os resíduos, levados pela correnteza, poluem até as praias turísticas de Itacaré e Maraú. A retirada de areia é realizada de maneira desordenada e áreas de preservação permanente do Rio das Contas vêm sendo ocupadas por construções de residências e estabelecimentos comerciais. Ao lado disso, o desmatamento incontrolado, além de destruir a cobertura florestal, principalmente da mata ciliar do manancial, agrava o problema, uma vez que sem sustentação da vegetação em suas margens, cresce o assoreamento (aterramento do rio). Ainda bem que, no momento, algumas entidades estão somando esforços junto ao poder público, visando despoluir e revitalizar a Bacia do Rio das Contas.
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